Cristo, o paradoxo!


“Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição

(também uma espada transpassará tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.” (Lucas 2:34e35)

Paradoxo vem do latim (paradoxum) e do grego (paradoxos). O prefixo “para” quer dizer “contrário a”, ou “oposto de”, e o sufixo “doxa” quer dizer “opinião”. Paradoxo é o oposto do que alguém pensa ser a verdade ou o contrário a uma opinião admitida como válida. A manifestação de Deus em Cristo é paradoxal! A manifestação de Deus em Cristo não segue a nenhuma lógica humana! É esse o sentido que o “cântico de Simeão” quando diz que o Cristo no ventre de Maria seria “alvo de contradição” quer exprimir, revelando que a vida de Jesus seria sempre um “alvo do paradoxo”. A começar pelo sentido de religião (religar) que é esvaziado na manifestação de Deus em Cristo. Por quê? Pelo simples motivo de que a religião, invenção humana, é o desejo humano de se religar a Deus através de esforço. Na religião o homem entende que deve “ir a Deus”, “buscar a Deus”, seja no culto, na igreja ou em qualquer tipo de entrega ao sagrado. Isso é impossível dado que um ser infinito não pode ser alcançado por um ser finito! Cristo, o paradoxo, é a vinda do próprio Deus a esse homem que foi enganado por essa sua “lógica”, essa sua “verdade”. Emanuel, “Deus conosco”! Deus caminhando em nossa direção, mas na forma humana, em Cristo, pois só assim é possível o encontro.

Cristo como aquele que “veio para os seus e os seus não o receberam” (João 1:11) se revela como alvo da contradição dos religiosos que eram piedosos adoradores de Deus e não o reconheceram quando ele esteve no meio deles. Como assim? O discurso de Cristo esvaziava o discurso da lógica humana quando dizia que “os humilhados seriam exaltados e os exaltados seriam humilhados” (Lucas 14:11), ou quando dizia que os “mansos é que herdariam a terra”(Mateus 5:5) e não os violentos imperadores romanos da época. Na lógica humana não se entende Deus! Em Cristo a “lei da causa e do efeito” deixa de ser uma regra e Nele se abre uma porta para a manifestação do acaso (sem causa) e do milagre (João 9:1a3). Nem sempre há uma causa para todo o efeito que se manifesta e mesmo se houver Cristo se mostra como a possibilidade de quebra dessa lógica (Lucas 23:39a43)! Não seria o milagre a quebra de qualquer lei ou lógica? Cristo, alvo da contradição! Um Deus paradoxal capaz de morrer morte de homem, morte em cruz, abatido, humilhado, enquanto o que se esperava era manifestação violenta de poder, de força hercúlea e de esmagamento físico dos inimigos. Um paradoxo! Sua ressurreição também como paradoxo esvaziando o poder da morte!

Para os que estão condicionados na lógica humana de que é preciso se “religar a Deus”… ”ruína”! Para os que se vêem caídos e sabem que não há esforço nenhum que se faça capaz de alcançar Deus… “levantamento” (Lucas 2:34), por que serão alcançados pela graça, pela misericórdia, pela visitação de Deus entre os homens. Ele continua a nos visitar diariamente e a sua visitação é capaz de revelar “os pensamentos de muitos corações”, uns condicionados pelo “senso comum”, pela lógica humana, outros, dando oportunidade ao acaso, ao milagre que representa a manifestação de Deus em Cristo e ao paradoxo que essa manifestação significa.

Anderson Luiz

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