“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” (Clarice Lispector)
O pior de mim é quando eu tento manter certo “controle” da minha vida, sabendo por experiência que não temos controle de nada. Nossas sombras não nos deixam mentir.
O pior de mim é quando a “moral e os bons costumes” são alçados como a “base” de todo o convívio humano na face dessa Terra. A história das religiões prova exatamente o contrário.
O pior de mim é quando eu condeno o erro infantil, as faltas por inexperiência, os desvios na vereda da vida… Crescimento e um pouco de maturidade só acontece errando, caindo e levantando.
O pior de mim é quando eu ando dividido, com a mente dividida, discriminando entre humanos e humanos. A morte e a sepultura chegam sempre a lembrar de nossas divisões tolas.
O pior de mim é quando eu não enxergo que estou despedaçado e que isso foi o resultado de um esforço contínuo contra mim desde o início. A minha integridade, aquilo que me deixa “inteiro”, foi alvo de todo o tipo de divisão que se estabeleceu no mundo.
O pior de mim é quando por minhas próprias mãos, eu sou tentado a achar que o mundo seria mais justo, mais “santo”, mais honesto e melhor para se viver se seguisse meus preceitos, ideologias e princípios. A história da Inquisição católica é um bom exemplo dessa desgraça.
O pior de mim é quando deixando de “ser” quem eu sou, tento ser outro, moldado e formado por opiniões, moda, redes diversas, regras litúrgicas, agrupamentos massificadores e sufocantes. A solidão e o vazio que se sente, são chances de refletir sobre o que realmente “sou”.
O pior de mim é quando eu emito julgamentos sem conhecer profundamente as coisas e caio nessa “rede” social de mentiras como um peixe que por não estar em mar profundo, foi capturado. Na era das tecnologias, o conhecimento é rápido e raso, nada profundo, a ponto de se viver de “compartilhamentos” e “curtidas” sem sentido. Quando se compartilha o melhor de si e se curte a vida profundamente, a “rede” não segura o peixe.
Anderson Luiz